A primeira proposta de reconstrução pretendia recuperar a memória da casa burguesa do final do séc. XIX: os salões com grandes pés-direitos, os tectos de gesso temáticos, a escadaria central, um objecto escultórico em riga velha com as balaustradas em madeira torneada e bilros, ainda a solenidade dos estuques e marmoreados, das portadas e dos altos rodapés…
Cem anos passados, sem tocar no essencial, a casa, restaurada e adaptada cirurgicamente, abriria ao público como turismo de habitação.
Teve uma vida breve. Hoje, depois do brutal incêndio que a impediu de viver essa vida, quisemos devolver-lhe o carácter e reconstruir uma versão essencial da sua história.
Especialmente no fosso de circulação, mas também nos tectos dos quartos e fachadas, o betão permitiu reinventar as antigas texturas, devolvendo à casa toda a carga dramática que a caracterizava.
É uma arquitectura fóssil, sólida como o betão e abre ao público com os mesmos sonhos.
Na porta do nº703 lê-se “foi 513” e será outra vez 703, com a mesma fachada e o mesmo batente de mão de ferro, que persiste em trazer à cidade as suas memórias.